Gaveta de Idéias

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

terça-feira, outubro 24, 2006

Eu sou alérgica aos Beatles

Sei que esse é um texto que vai causar choque, indignação e talvez até fúria, mas eu não posso mais esconder a verdade: Eu sou alérgica aos Beatles. Para mim, não é possível escutar qualquer música deles no rápido sem, no mínimo, a compulsão de mudar de estação. Eu nunca comprei um simples album deles e no meu computador devem ter, no máximo, 3 mp3s do grupo. Eu simplesmente não consigo ouvir os Beatles.

Os mais radicais perguntariam por quê. "Se eles são a melhor banda de todos os tempos, insuperáveis, supremos? Será que você realmente conhece toda a magnitude da banda?". Sim, eu conheço. Já ouvi todas as fases da banda, sei cantarolar a vasta maioria das letras, posso muitas vezes indicar o album de onde a música se originou, se quem escreveu foi John ou Paul, ou mesmo as do George e do Ringo, assisti seus filmes, sei que eles criaram o videoclipe como o conhecemos, enfim, o básico da história. Não é simples implicância, ou uma pseudo-revolta indie.
O fato é: eu já ouvi tudo de Beatles que uma pessoa deveria ouvir na vida, e mais um pouco. Aos 10 anos, eu saturei. Sim, eu saturei dos Beatles. Desenvolvi uma alergia.

Explica-se: sou a caçula de 2 irmãos mais velhos, que descobriram os Beatles na tenra infância, e os elegeram como banda favorita aos 8 anos. Meus pais, adolescentes dos anos 60 que foram, haviam feito essa decisão muito tempo antes da minha existência ser cogitada. Logo, adivinhe qual era a trilha sonora em noites de família, sábados de manhã e viagens de 7 horas para a casa da vó? Sim, Beatles. Por mais que eu protestasse, ou pedisse uma coisa diferente. Qualquer coisa diferentes, por favor. Que nada. Sempre fui voz vencida, e coagida a ouvir a todo o momento os 4 rapazes de Liverpool.

A maior alegria de quando ganhei o Meu Primeiro Gradiente, além de que ele era coloridinho, foi poder ouvir o que eu quisesse em paz, fazer gravações toscas do rádio (eu nunca queria de gravar um pedaço da vinheta, então sempre cortava o final da música) e saber o que as pessoas haviam produzido musicalmente depois de 1971. Enfim, a modernidade! Ainda que em forma de sintetizadores... como eu amo os sintetizadores! Eu tinha uns 9 anos, então entenda que a revolta pra mim não foi o punk, foi o new-wave, que até hoje mora no meu coração.
Isso me fez perceber que não tenho um apreço automático pelos clássicos só por que são clássicos. Música boa, pra mim, é a música que eu gosto. Respeito o gosto dos outros e aprendo muita coisa com outras pessoas, mas por favor, vamos ouvir algo diferente. Por mais que sempre se reclame da cena musical, eu acredito que em algum lugar tem alguém fazendo algo novo, bom e diferente. Ou acho mais interessante descobrir coisas antigas que não conhecia, mas com que me identifico mais. Se minha família fosse fissurada em Bob Dylan e Johnny Cash, hoje talvez eu até não tivesse problema nenhum com os Beatles.

De vez em quando, eu até ouço um coisa ou outra do Album Branco (o único dos Beatles que eu talvez, um dia, comprasse). E tenho que admitir que a versão do Eddie Vedder de "You've got to hide your love away" é linda - mas essa sempre foi uma das poucas músicas q eu gostava. Mas, se toca "Love me do" no rádio, começo a tremer, me dá uma angústia... e eu tenho que mudar de estação. Senão, minha mão fica coçando.


Atchim!!

2 Comments:

At 2:17 PM, Blogger Unknown said...

é bastante compreensível. o duro deve ser explicar tudo isso pra todo mundo que fica indignado. hehehe

 
At 12:56 AM, Blogger D. said...

os indignados não lidam bem com o fato de eu ser prolixa. afinal, eles estão indignados!

 

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