Gaveta de Idéias

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..." - Clarice Lispector

domingo, agosto 20, 2006

Everyone feels good in a room

Há algum tempo eu já venho me sentindo um pouco velha demais pra ir na balada, night, reggae ou como quer que vocês, jovens, chamem essas coisas atualmente. Eu me sinto quase do tempo do footing.

Isso me perturba de certa maneira, porque eu gostava muito de sair antes. E os mesmos elementos isolados que me faziam apreciar uma boa noitada antes continuam presentes: eu gosto de beber, adoro dançar, conhecer gente diferente e ter conversas descontraídas por aí. Então por que eu, sempre que vou sair de casa, penso em levar o Kit-fuga: chave de casa+dinheiro para o táxi? E acabo usando, e me divirto mais conversando com o taxista do que me diverti nas 2 horas anteriores?

Quero deixar claro que eu não sou um monstro anti-social que só quer saber de ficar em casa, baixar música da internet e assistir "O Aprendiz": eu adoro reunir meus amigos, eu tento fazer isso sempre que possível, e sou a primeira a dizer sim para um boteco, um restaurante, uma ida ao parque pra patinar ou qualquer coisa diferente. Só que eu me sinto muito entediada com o lugar comum que tem sido as opções de vida social no meu pequeno espectro de mundo.

Ontem eu resolvi fazer um experimento sociológico comigo mesma e saí pra uma balada com meus amigos. Não havia nenhum elemento externo me desanimando, eu tinha dormido o suficiente na noite anterior, eu até tinha uma roupa nova para usar e me diverti horrores fazendo minha maquiagem, como sempre. Confesso que o começo foi legal: encontrar o povo e dar risada é sempre o máximo. Pelo menos eu tenho amigos bacanas.

Como toda balada paulistana, a fila estava enorme. O paulistano é um cidadão que às vezes parece em negação com o fato de que vive numa cidade de 11 milhões de habitantes: o consciente coletivo se junta e, com um belíssimo sotaque da Mooca, pensa: "Orra meu, vamos pra Vila Olímpia!". E a massa de carros, congestionamento, filas etc. Mesmo eu não tendo ido para a famigerada V.O., a mesma cena se repetiu. Mas nem liguei muito pra fila, porque fiquei me divertindo muito com conversas bobas com meus amiguinhos. E acabou sendo uma das partes mais divertidas da balada.

"Orra meu, a balada tá bombando!"











Mas chegando lá dentro... ai ai ai. O lugar era open-bar, o que gerava uma aglomeração monstra em volta do bar, com pessoas lutando por drinks aguados e ruins. Agora todo mundo reclama que sair em São Paulo é caro - e realmente é - mas se quiserem me cobrar um preço absurdo, por favor ofereçam uma bebida decente. Quando o seu estômago passa a rejeitar o que você bebe, é sinal de que tem água demais no feijão.

Aí chegamos à minha parte favorita: a aglomeração. Eu simplesmente detesto - DETESTO - estar num lugar em que tenho que fazer contorcionismo para circular. Eu gosto de ver gente, mas não tanta gente assim. Uns 25% a menos tava bom. Eu tenho pavor de ficar paradinha num canto, fazendo carinha de quem "tá curtindo e causando horrores, véio", e dando um ou dois passinhos para o lado, enquanto é empurrada pela horda para algum canto do salão. Porque obivamente, ninguém te aborda com uma frase estilo "por obséquio, gentil senhorita, queira permitir que eu me desloce ao setor superior-esquerdo?". Não, é a pura lei da selva.

resultado da peregrinação na noite








Eu poderia reclamar muito mais, mas seria injustiça. A música até que estava legal, e nas 3 oportunidades que eu tive de conversar com alguém diferente, foi divertido. Porém, os fatores acima citados combinados me fizeram avisar apenas uma compreensiva amiga de que eu estava indo embora (para ninguém me encher o saco para ficar), pegar um táxi amigo e ter uma conversa engraçada com o taxista sobre a reforma da laje da casa dele em Atibaia.

A moral da história: quando já me julgava desacreditada, idosa e com uma vontade súbita de tricotar, conversei com uma amiga que me tranquilizou: não é isso... é que a balada está RUIM mesmo. E ela só não estava fugindo comigo porque estava com o seu consorte, o que amortizava a pentelhação.

Então tá: estou velha para baladas ruins, só isso. Ufa.